Seguidores

quinta-feira, 8 de setembro de 2011


Mestre JB
Quem começa a ler meus artigos e textos aqui, logo vai perceber que estou acostumado a escrever em primeira pessoa, com exceção de textos literários mas aí é outra história. A razão fundamental disso acontecer é que tudo o que leio sempre será confrontado com minhas experiências, com o que sobrou, internamente, não apenas das leituras mas da vida.
Portanto, esse artigo sobre Liturgia será iniciado (como convém a toda Liturgia) com uma confissão: por muito tempo alinhei-me com aqueles que a combateram, sobre o pretexto de que era umengessamento desnecessário do BDSM.
Essa visão tinha uma justificativa que, ao meu ver, era plausível mas incompleta porque via o BDSM mais centrado na sessão e esquecia-se que há todo um entorno muito mais importante do que ela, ou seja, o cotidiano, a criação dos relacionamentos e demais elementos da “ordem” BDSMista.
Hoje, um pouco mais “maduro” (ou será vivido, instruído?) começo a ver que há todo um contexto que não pode ser desprezado e que, de certa forma, justifica a liturgia.
Sempre intitulei o BDSM como um “jogo erótico-afetivo” e a primeira vez que falei isso, sofri uma reprimenda que , inclusive, me afastou da pessoa que a fez mas que hoje entendo o que me foi dito à época. Mais do que um “jogo” , uma bem elaborada “peça teatral” (o que chega a ser em alguns momentos e casos), BDSM refere-se à um relacionamento que tem uma carga comportamental muito forte , além do erotismo e do afeto.
É uma estrutura vertical, rígida, hierárquica, mais se assemelhando às estruturas religiosas tradicionais do que uma democracia aos moldes ocidentais. Mesmo admitindo-se os limites que geralmente são impostos via SSC (São, Seguro e Consensual), o papel do Dominante (seja ele homem ou mulher), sempre prevê uma obediência longe de questionamentos, com práticas que não apenas reforçam essa estrutura de poder mas ritualizam a posse o domínio.
Um parêntese para um reforço, ao meu ver, necessário: não postulo, como não o faria, um domínio levado às últimas (in)conseqüências de forma a não respeitar o trinômio SSC. A ilimitação do poder do Dominante dá-se no espaço definido por ambos como as fronteiras da sanidade , segurança e consensualidade, cabendo ao Dominante, com sua experiência e sensibilidade, ampliar eses limites, fugindo da rotina e ampliando o rol de práticas e demais atividades a que ambos proponham-se.
Findo o parêntese, voltemos à Liturgia. Ouvi de uma grande amiga, Dominadora, que “sem liturgia, vira anarquia”. De fato: se de um lado a falta de liberdade eventualmente restrinja alguns dos praticantes, a ausência dos limites faz com que qualquer coisa seja BDSM, o que não é fato. É essa percepção que falta aos que nos vêem de longe e apenas percebem os casos infelizes que vira e mexe acontecem por aí, com cara de BDSM, não sendo.
A Liturgia dá norte, estabelece as fronteiras, dá um caráter próprio às práticas, estabelece limites e delineia ações, deixando restar espaço de liberdade para que, baseado em seus princípios, dê-se “uma feição própria” a cada relacionamento BDSMista.
Submeter uma prática à liturgia é delinear e dar corpo, igualmente, à relação Dominante/submisso. Em algumas correntes do BDSM como o Gor, a liturgia é a razão de ser da corrente, tendo sido rigorosamente descrita nos livros que lhes servem de base e sem o qual nada faz sentido.
Portanto, e tentando ser mais breve do que na “Cela…”, para muitos, ser litúrgico é fundamental e começo, ainda que nosprimeiros passos, a compartilhar dessa visão. Há muito que se explorar, muito para ler e pesquisar e tirar dali um rico manancial de atitudes e práticas.
Para não cansar o leitor, no final do artigo estará listados alguns artigos e sites para quem desejar aprofundar-se no assunto. Ao menos, pelo que me toca, é uma exploração deliciosa. Fica o convite.
Saudações BDSMistas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário