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quarta-feira, 8 de junho de 2011

Adestrar para quê?


Uma pergunta que costuma ser feita por aqueles que começam no BDSM é essa: para que serve, afinal, o slave training? O que essas pessoas querem saber é, por exemplo, se a mulher que se submete a um conjunto de sessões de adestramento pode modificar sua disposição, passando de não submissa a submissa.
A resposta honesta é não. A disposição de submissão, seja esta afetiva ou sexual, é parte do conjunto de características psíquicas que uma pessoa traz de toda a sua história de vida. É parte da forma como essa pessoa encara o mundo, não um aprendizado como outro qualquer.
É verdade, porém, que a disposição de submissão pode existir em estado de latência naquelas pessoas que não se julgam submissas e que até mesmo se rebelam ante a idéia de serem dominadas sexual e afetivamente. Assim, por exemplo, com frequência não desprezível mulheres fortes e voluntariosas experimentam prazer intenso e profundo, até então inédito em suas vivências, ao se deixarem dominar num relacionamento, sendo necessário, claro, que esse relacionamento siga os requisitos básicos de consensualidade, segurança e sanidade.
Isso ocorre, como o demonstram a psicologia e a psicanálise, porque a submissão é um dos pilares fundamentais da estrutura da sexualidade e da afetividade feminina (o que não significa que seja a única ou a mais válida delas; do contrário, não haveria mulheres dominadoras que sentem prazer em o serem). De fato, a adoção de um comportamento passivo na cama pela mulher, que retira prazer da passividade ao ser usada para o prazer de seu companheiro, é já uma forma de submissão, sendo inviável contestar essa constatação fatual.
Essa passividade sexual prazerosa para a mulher é, como sabemos, muito comum, o que mostra a raiz profunda da submissão na estrutura da sexualidade e afetividade femininas. Claro está que nem toda passividade na cama evolui para formas mais elaboradas de submissão, havendo mesmo mulheres que, após a relação sexual em que foram prazerosamente subjugadas e usadas, querem uma convivência normal, que inclui voz ativa e a reivindicação de não obedecerem senão à sua consciência na condução de suas vidas profissionais e pessoais.
Tais mulheres são submissas? Seguramente o são, em essência, embora optem por fixar os limites de sua submissão, o que será sempre um direito que lhes deve ser reconhecido em qualquer relacionamento ético. Em razão disso, por exemplo, a mulher que não gosta de uma determinada intensidade de dor física deve dizê-lo e ser respeitada nesse gosto por aquele que a domina.
Para quais mulheres, então, serve o slave training? Eu diria que ele serve a todos os tipos de mulher que já reconheceram dentro de si uma inclinação a se comportarem como submissas. Serve inclusive àquelas mulheres que, num dado momento, querem apenas ser subjugadas e usadas sexualmente em sessões/relações sexuais, uma vez que a submissão, ao contrário do que se imagina, não e uma tendência ou inclinação que vem pronta; ela é aperfeiçoável, tanto o quanto o é qualquer outra prática sexual, seja ou não do tipo D/s.
É no slave training, quando conduzido com seriedade, que a mulher pode descobrir, numa prática pedagógica seguida com método e respeito, até onde vai a sua disposição de se submeter. Neste sentido, o slave training é muito mais seguro para a mulher do que se entregar em submissão a um dominador que pode lhe exigir mais do que ela está disposta a dar, causando-lhe prejuizos, ou menos do que ela gostaria de ceder, trazendo-lhe insatisfação e frustração. O ideal é que noslave training a mulher se libere e se conheça, preparando o terreno para saber que tipo de relacionamento deseja.
Uma última pergunta pode surgir: e se o dominador se dispuser, ele próprio, a fazer o slave training? Isso é válido? É possível, sem dúvida, mas arriscado. Neste caso, o dominador não estaria realizando dominação e sim adestramento. O problema é que a relação D/s teria que ser, por assim dizer, interrompida, pois o adestramento supõe que a submissa tenha uma ampla possibilidade de se descobrir, o que demanda tempo e paciência, além de exigir que seja seguido o seu ritmo, não o dominador. Isso pode desagradar a alguns dominadores, se eles tiverem expectativas de domínio imediato.
Desnecessário dizer que a maior parte dos dominadores, sobretudo os que estão se iniciando, julga-se capaz de adestrar sua submissa. Mas justamente por serem iniciantes, isso pode não ser verdade. Surge então a alternativa do slave training, que geralmente é procurado pela mulher que se descobre submissa e tem o bom senso de buscar um caminho de aprendizado antes de se entregar, garantindo assim maiores e melhores possibilidades de obter tudo o que a relação dá.

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