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sexta-feira, 20 de maio de 2011


À luz da lua cheia que ousada invadia a escuridão do quarto, Anna acariciava os cabelos de Maria, que repousava num sono profundo aninhada com a cabeça junto aos seus seios. E enquanto acariciava, observava as marcas no corpo de Maria. Num gesto quase que instintivo levou os dedos àquelas marcas sem tocar, tocando. E uma lágrima escorreu pela face lembrando as palavras dela:
- Eu preciso sentir dor. Dor, para amenizar a minha dor. Uma dor intensa de ter que acordar todos os dias, levantar e levar esta vida vazia… Quanto mais sofro, menos sinto.
Aquilo era meio absurdo para ela, que apesar de todos os pesares que a vida lhe causou, seguia firme e sempre adiante. Cheia de marcas, é verdade, não na carne, mas na alma. Talvez fosse melhor ser como Maria, e ter a dor cessada, mesmo que por instantes através da dor externa, do castigo, da dor impingida por outrem. Sadismo e masoquismo psicológico, que se completa, que faz da cena o divã do analista, do ato de impingir e submeter-se à dor, uma expiação.
O recado na caixa-postal do celular denunciava o desespero da amiga: “Preciso falar com você, me liga!”. Anna ligou, mas não teve resposta, o que deu nela uma grande angústia. Veio à sua mente o pior. Pegou as chaves do carro e em pouco tempo estava à porta da casa, apertando o interfone. Uma, duas, três vezes até obter resposta. Uma voz chorosa, mas que reconhecendo a voz da amiga abriu o portão. Anna foi recepcionada por Puck, o labrador de Maria, que parecia ansioso em conduzi-la o mais rápido possível para dentro de casa pela porta entreaberta.
Ao abrir, Anna viu a amiga nua esparramada no chão, chorando, entre fotos e mais fotos. Uma vida em imagens. Pequena na escola, na primeira comunhão, com o namoradinho da adolescência, de vestido de noiva, na lua-de-mel com o ex-marido… E quando viu a lamina da faca afiada brilhando no sofá, entendeu de imediato a intenção de Maria. Correu para perto dela e tirou aquele objeto de perto dela. Foi então que viu as coxas ensangüentadas, pequenos cortes que escorriam filetes de sangue, sangue que escorria e sujava as fotos.
- Você está louca Maria? Queria se matar? – disse gritando com a amiga, segurando-a pelos cabelos, forçando-a a olhar em seus olhos.
- Não! – ela gritou desesperada entre as lágrimas – Eu não quero morrer, mas preciso sentir dor. Eu preciso sentir dor. Dor, para amenizar a minha dor. Uma dor intensa de ter que acordar todos os dias, levantar e levar esta vida vazia… Quanto mais sofro, menos sinto.
E dizendo isso caiu num choro convulsivo, estremecendo todo o corpo. Ela estava em crise e precisava acordar. Foi então que num gesto rápido, enquanto com a mão esquerda a segurava pelos cabelos, com a mão direita deu dois tapas fortes em sua face. Tirando-a do surto, trazendo-a de volta ao mundo real. Ela olhou para a amiga assustada e levou a mão a própria face, quente pelo estalo da bofetada. Nada disse ficou quieta, com as lágrimas ainda escorrendo, mas agora sem soluços. Anna soltou seu cabelo, ajoelhou-se diante dela e beijou sua face, suas lágrimas, seus olhos, boca… Envolveu o corpo da amiga em um abraço terno. O beijo na boca não tinha volúpia, era cuidado. Por muito tempo ficaram ali, abraçadas, sem dizer nada. Só aconchegadas nos braços uma da outra. E quando Maria ficou mais calma, a outra se levantou e foi até o banheiro pegar anti-séptico para desinfetar e tratar os cortes da auto-flagelação da amiga.
Depois de tratada, Maria contou em detalhes seu sofrimento, mais uma vez falou da vida, das sucessivas desilusões, da culpa pelo casamento não ter dado certo, dos pais negligentes e novamente falou da dor. Uma dor interna que só passa com a dor externa. E começou a detalhar o sofrimento de ser como era. Foi quando Anna calou a amiga com um dedo em sua boca. Olhou-a profundamente em seus olhos e disse:
- Já experimentou aliar a dor ao prazer? – e viu uma grande interrogação se formar na expressão da amiga, mas continuou aproximando o corpo da outra, forçando uma intimidade invasiva. Intimidade que se consolidava com as mãos acariciando e tocando o corpo da amiga.
- Não é possível ter prazer na dor Anna. Aliás, eu nem acredito em prazer, nunca tive um orgasmo senão os que eu mesma estimulei através da masturbação – e baixou o olhar envergonhado.
Anna então deitou o corpo da outra na cama, que sem resistência acatava todos os comandos, mudamente. E enquanto beijava-lhe a boca, com as pontas dos dedos buscava os mamilos rijos de Maria, que entregava seu corpo sem reservas. E quanto mais sentia a entrega, mais fazia pressão com os dedos, as pontas das unhas, até sentir um gemido abafado pelo beijo. Neste instante, soltou o mamilo e fez o mesmo com o outro que ficara livre até obter a mesma reação.
- Doeu? – Anna perguntou com um olhar enigmático e respiração ofegante.
- S-sim, mas… Eu gostei! – disse tímida – Acho que melei entre as pernas.
E dizendo isso recebeu um tapa estalado na face, dessa vez não tão forte quanto o da sala, mas que a colocou em alerta, sem saber o que tinha feito de errado. A amiga percebeu o olhar interrogativo e completou:
- Quem te mandou gozar, putinha?! Ainda não…
Provocando uma sensação estranha em Maria, um tesão que parecia invadi-la de dentro para fora, queimando seu corpo até afoguear a face e enrubescê-la. Ser chamada de puta pela amiga provocou uma sensação contraditória dentro dela, que aliada a dor que quase a levou ao gozo a deixava confusa, mas excitada.
Anna então levantou da cama. E lentamente começou a despir-se. Já tinha visto a amiga nua muitas vezes, mas nunca foi tão erótico vê-la despir peça a peça. Ela não tirava o olhar dela enquanto desnudava-se, olhava diretamente em seus olhos, seios, umbigo, púbis. Quando viu o olhar dela fixo em sua xota, mais uma vez sentiu melar e instintivamente apertou a mão entre as pernas. Foi quando viu que a amiga, já completamente nua, puxou-a pelas pernas na cama, trazendo-a para bem perto de si e tirou a mão de onde estava. E bem baixinho disse em seu ouvido.
- Será que terei de amarrá-la pra você aprender que eu disse ainda não?!
As palavras dela, sempre tão firmes, mas ao mesmo tempo delicadas, enchiam-na de tesão. Sem perceber fechou os olhos e deu um suspiro. Sentiu que a outra se levantava e começava a procurar alguma coisa no guarda roupa.
- O que você quer Anna? – tentando ajudar.
- Cala a boca, e feche os olhos, eu me viro… – foi a resposta seca da amiga, mas como já havia entrado no jogo de comando dela, acatou sem dizer mais nada.
Anna recostou-se por trás dela, roçando os seios em suas costas, roçando seus longos pelos nela. Sentia o corpo estremecer. De repente, ainda com os olhos fechados, sentiu que um lenço era amarrado sobre seus olhos, deixando-a num breu total. Aquilo a assustava ao mesmo tempo em que ficava cada vez mais excitada, mas confiava tanto na amiga… Que se deixava levar. Aos poucos teve os punhos e tornozelos atados por algo que parecias lenços, ou echarpes de seda, sendo amarrada em X na cama. Percebia a amiga sair e voltar ao quarto. Aquilo dava uma sensação estranha, um desconforto absurdo que começava a incomodá-la. Era horrível não saber o que estava acontecendo e então perguntou:
- O que está fazendo Anna? – e recebeu outro estalo leve na face, que mais uma vez a excitou, entendeu perfeitamente quem estava no comando e não a questionaria mais. Ficou angustiada, mas percebendo cada som, cada aroma.
Sentiu então algo gelado em seus mamilos, devia ser gelo, sentiu o corpo arrepiar. Anna não dizia nada. Havia colocado um CD de música celta para tocar. O som das gaitas de fole ia enchendo-a cada vez mais de tesão. Sentindo o gelo passear pelos seus mamilos hora um, hora outro. A ponto de ficarem dormentes, sentiu que algo foi colocado neles, mas não sabia o que. Continuou apenas percebendo, sentindo o que Anna fazia em seu corpo. Passou gelo em seu clitóris, arrepiando-a uma vez mais.
À medida que os mamilos iam voltando à temperatura ambiente e um desconforto maior ia provocando uma dorzinha constante neles, já não conseguia bem entender de onde ou o que lhe provocava mais desconforto, a dor nos mamilos ou o gelo no clitóris. Sentiu então os dedos dela abrindo-lhe os grandes lábios, até suavemente tocá-la com os próprios lábios. Sentiu a região aquecer aos poucos pelo calor daquela boca, o prazer ia crescendo enquanto era mamada por aquela boca. O corpo contorcia de prazer e quando pensava que estava prestes a gozar a amiga uma vez mais vinha com o gelo que apagava seu fogo. Aquela sensação de quase lá a enlouquecia, ao mesmo tempo em que seus mamilos doíam e incomodavam até quase não agüentar. No entanto, não tinha coragem de pedir que fosse retirado, o que quer que fosse de seus mamilos. Agüentava, submetia-se àquela dor.
E quando Maria pensava que já estava terminando, ela saía, mas voltava com outra coisa. Sentiu cheiro de algo queimando, parecia o cheiro da vela aromatizada que enfeitava a sala, presente da própria Anna. Imaginar o que Anna podia fazer com a vela deu um desespero, por outro lado, era mais forte que ela a excitação e o desejo de saber qual seria o próximo passo. E então, sem aviso, recebeu algo quente em sua barriga, escorrendo e endurecendo. Deu um grito. Não acreditava que ela havia feito isso, derramado cera quente em seu corpo. Ouviu a amiga falar bem pertinho de seu ouvido:
- Shhhhhhh… Não se preocupe, eu sei o que estou fazendo – e curiosamente sentia que ela realmente sabia. Afinal, havia dor, mas havia uma sensação de libertação naquela dor.
Anna tirou o que prendia seus mamilos e a dor ao invés de aliviar ficou mais aguda. Gritou novamente. E sentiu os lábios dela calando os seus num beijo intenso, sentia a respiração dela ofegante, como a sua, como se a sua dor a excitasse. E mesmo contorcendo-se de dor diante do simples toque dela em seu mamilo, excitava-se cada vez mais com tudo o que acontecia. Sentiu os lábios dela descendo por seu corpo. E uma simples lambida no mamilo era o suficiente para provocar mais dor e mais prazer. E quando a boca finalmente chegou entre as suas pernas, sentiu que estava prestes a gozar. E quando estava quase lá, mais uma vez a amiga parou e disse:
-Ainda não minha putinha, sei que você está no cio, mas teu prazer é meu…
E dizendo isso, mais uma vez afastou-se. Voltando mais uma vez lambendo-a, mas desta vez penetrando algo meio gelado, que a preenchia completamente, entrando bem devagar. Ela massageava seu clitórris com a língua ao mesmo tempo que penetrava aquela coisa grande e larga que aos poucos ia tomando a temperatura do seu corpo e provocando uma sensação de prazer. E enquanto com a língua e boca ela mamava o clitóris, com a mão direita tocava um mamilo no mesmo ritmo que enfiava e tirava aquela coisa de dentro dela. Aquilo tudo a enlouquecia, sentia dor, sentia-se invadida, flagelada por aquela carícia em seu mamilo sensibilizado e prazer, muito prazer com a mamada dela em seu clitóris, começou então a se contorcer, chorar e gritar, mas sem ter coragem de pedir para parar e então quando pensou que fosse desmaiar de dor e prazer explodiu num gozo absurdo e inexplicável. Sentiu-a enfiar fundo a coisa dentro dela e a boca mais uma vez beijando a sua. O coração dela batia acelerado, e o beijo era sôfrego e urgente.
Maria não soube quanto tempo ficou ali, amarrada e vendada nas mãos de Anna, mas suas primeiras palavras após ser liberta foram:
- Muito obrigada amiga, nunca pensei que pudesse sentir prazer na dor…
Olhou em volta e viu os objetos, testemunhas daquela noite insólita. Os lenços que ainda podia sentir ao redor de seus punhos e tornozelos. As velas acesas que ainda perfumavam o ambiente. O baldinho de gelo que agora era só de água. Clipes de papel largados no canto da cama e um pepino, grande e grosso, todo lambuzado dela. Quem diria que o seu primeiro orgasmo com penetração teria sido proporcionado por uma mulher , sua amiga e de maneira tão incomum.
Anna se recostou na cama enquanto fumava um cigarro, e nisso Maria se aninhou feito gata enroscando em seu abraço. Lá fora Puck latia, certamente com um gato desavisado que ousava passear pelos muros à luz da lua. Uma lua linda, enorme, cheia, que invadia o ambiente em louvor àquele momento. Àquelas duas mulheres abraçadas.
- Dorme Maria, você precisa descansar… – disse aconchegando-a ainda mais em seu abraço.
- Mas você nem gozou Anna…
- Quem disse que não? – e ficou acariciando os cabelos da outra, olhando a lua, ao som das gaitas escocesas e da mágica música celta.

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