Seguidores

domingo, 15 de maio de 2011


No final do século XIX, inicio do século XX, pensávamos que o sadomasoquismo fosse uma perversão, um desvio da sexualidade, produto e produtor de transtornos psicológicos/psiquiátricos. Até que Freud, com seus estudos sobre a sexualidade humana, veio a nos ensinar: Toda sexualidade humana é pervertida, ou melhor, a diferença entre a sexualidade humana e a sexualidade animal é que a nossa é pervertida.
Declinemos com cuidado a afirmação acima, para isto será obrigatório perguntar sobre o que é perversão, e depois, o que é normalidade e por ultimo discutir um pouco sobre a sexualidade humana.
Perversão é ‘um desvio de comportamento e das práticas sexuais normais’. Está claro aqui que o normal não pode ser o mais freqüente, o conceito de normal para a estatística, se assim fosse, a ausência de orgasmo na mulher até a alguns anos atrás seria normal, já que elas eram ensinadas a não ter prazer, hoje, não conheço as estatísticas, mas não me estranharia encontrar a ausência de felicidade erótica/sexual na maioria dos terráqueos. Não se pode imaginar que estamos falando do normal estatístico, portanto, até porque, se verá a seguir, a perversão é o normal neste sentido.
Então, o que quer dizer ‘normal’? Quando se fala em desvio sexual, está se utilizando uma definição funcional de normalidade, no sentido, por exemplo, de um braço e uma perna que nasceu ‘anormal’, ou seja, uma mão que não tem os dedos, um pé que não se sustenta, não serve à função que deveria servir, para a qual existe.
Para que a sexualidade existe? Para que a nossa espécie não se extinga, para a reprodução. Sexo anormal é o sexo que se afasta da procriação. Adotemos por ora esta definição, cônscios do seu caráter biologicista. Por ela, somos forçados pela evidencia a reconhecer que toda a sexualidade humana se afasta da normalidade, ou seja, é perversa.
Afinal, se estivéssemos falando de procriação, pensando no exagero de 5 filhos por casal, ou por mulher já que é ela que pare os filhotes, e pensando que a cada 5 vezes que a copula ocorrer se terá uma boa probabilidade em media de engravidar-se, então faríamos algo como 20 ou 25 vezes sexo durante a nossa vida (!), no entanto, nos desenvolvemos enquanto sociedade no sentido de tornar o sexo livre da procriação, através de todos os métodos anticoncepcionais, ou seja, tornar o sexo livre de sua função biológica, ‘anti-natural’ poder-se-ia dizer.
No plano do ato sexual estrito senso, tudo fazemos para que ele se afaste mais e mais da procriação, e consideramos o sexo satisfatório quando e somente quando se torna independente da procriação, nas preliminares (quando não como a própria finalidade dos gestos) nos utilizamos de sexo oral, colocar o sexo do parceiro na boca, caricias quanto mais longas melhor, iludimos o tempo para retardar o derramamento do esperma do macho no útero da fêmea, exatamente o que a biologia está a pedir. Flores, consolos, conversas a meia luz, jantares regados a vinho. Consideramos o sexo bom quando ele se afasta do biológico. Quanto mais perverso melhor. Passeie um minuto pelas fantasias humanas, e verá que tem apenas uma função: Divorciar o sexo da procriação, torna-lo cada vez mais perverso.
Avalie a qualidade da relação sexual, em qualquer parâmetro, sob qualquer ótica. O sexo será considerado prazeroso quando, e somente quando, se afastar da procriação. O prazer que temos na sexualidade é o de expulsar o animal que carregamos dentro de nós. Por vezes uma mulher muito excitada gosta de se considerar uma ‘cadela’, nada mais longe da verdade, uma cadela não chupa seu macho, não permite que lhe penetre o rabo, não retarda o gozo até que ele exploda, humana, isto sim, estou tão tesuda quanto uma mulher, é o que devera ser dito por aquela mulher, ao contrario, estou tão frigida como uma cadela.
Neste sentido, como se viu, a nossa infinita capacidade de perverter o sexo aparece com toda a sua força, passa a ser sinônimo de humanidade: O quão humano a tua sexualidade é? Depende do quanto é capaz de ser perversa.
Agora é possível perceber: e o sadomasoquismo? Tão perverso quanto qualquer outro estilo, mesmo que seja o papai/mamãe. Mas com uma diferença: Não mente. O sadomasoquismo é um estilo de sexualidade que sabe da perversidade do humano e assume. O sadomasoquismo, ao contrario de tantos outros estilos, é uma sexualidade honesta
 
 
 
 
 
Eu mando, você obedece. 
Simples não? 
 
 
 
Um é o senhor, manda, bate, humilha, tortura; e gosta disto tudo. O outro, humilha, tortura; e gosta disto tudo. O outro obedece, apanha, se humilha, é torturado; também gosta disto tudo. Pronto, eis o esqueminha sadomasoquista pronto para uso (pret-a-porter). Nada mais tolo, mais ingênuo, mais perigoso do que imaginar que exista alguma coisa assim. 
Senão vejamos.
A relação deve ser consensual, sabemos todos, senão se transforma em mera violência, em agressão. Isto quer dizer que o dominado deve querer e concordar e gostar do castigo que recebe, tanto quanto o dominador gosta, não é incomum, inclusive, que o dominado peça modos e maneiras de apanhar. Mas aqui está algo interessante: Se a escrava ou o escravo sente e diz –Por favor, me bata, e se gosta, goza com isto; então é o dominado que está dominando o dominador? Sim, o senhor está fazendo exatamente o que o escravo quer!
O uso da força bruta, um revolver na cabeça de uma mulher e uma ordem: Chupa! Por exemplo, estabeleceria uma relação de dominação, de poder, de violência. Mas tal coisa é e deve ser abominada e abominável pelos praticantes do sm. O que queremos é o desejo mútuo, a vontade mutua, a cumplicidade. Ora, em sendo assim a relação senhor/escravo obedece a uma dialética que não tem nada de singela: O senhor domina a escrava que domina o senhor por ser dominada por ele, a escrava é dominada do modo como deseja, portanto é o senhor que se subordina às suas vontades. Subordinar-se pelo próprio desejo é um ato de soberania, talvez o maior que a consciência humana possa conhecer. Dominar porque o desejo alheio assim o deseja é ato de generosidade, de contrição.
Punir a uma escrava é uma metáfora pueril. Bater nela? Mas é isto que ela quer! Isto promove a pratica, o jogo erótico entre alguns praticantes do sm do tipo: Eu finjo que errei, ele finge que se irrita, me castiga e nós dois gozamos. Na minha experiência com minhas escravas, cheguei à conclusão que a única maneira de puni-las é não bater. Com isto sim, ficam tristes e procuram não errar mais.
Mas e então? Se desapareceu a aparente polarização entre o ‘eu bato e você apanha’, o que resta? Se não é a diferença de poder o que caracteriza o sadomasoquismo, o que é então?
Está em algo mais profundo, mais essencial do que o teatrinho. Está na orientação do desejo. Alias é sempre ali que está a definição de qualquer sexualidade. O homossexual é quem deseja ao mesmo sexo, seu desejo é orientado para o semelhante (para si mesmo diria Freud).
O sádico deseja o outro, o masoquista deseja o desejo do outro. Eis o que realmente ocorre nesta relação. Você será minha, será a satisfação de todos os meus quereres, quando te bato, o faço para te mostrar que o teu corpo me pertence, que teus gritos partem do meu tesão, quando te amarro, o faço para que saibas que o s teus movimentos são meus. Quando me ajoelho perante tuas vontades, é porque desejo que você me deseje, quero que me queiras, quando te obedeço quero que me queiras.
Você deseja alguém? Quer a ela para si? Então você é sádico. Se gosta de spanking, pissing, etc, é um detalhe que o teu escravo vai resolvel. Você quer ser desejada/o? então você é masoquista. Fique à espreita, procure adivinhar o que teu dono quer, e faça! Saiba deseja o desejo dele, para ser desejada por ele.
O resto são bobagens infantis, coisas para a sala de Chat da Internet. Na vida real, existe o amor. Queremos o amor, perseguimos o amor. Alguns querem o amor entre iguais, outros preferem o amor entre diferentes: Estes são sadomasoquistas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário